
Viviane Fortuna Vieira / Foto: Cristiano Goldschmidt
Viviane Fortuna Vieira tem 37 anos. De família grande e humilde, seus pais se preocupavam com um futuro melhor para os filhos, mas não se preocupavam com seus estudos. Sua mãe não fora alfabetizada. Dizia aos filhos que o melhor era que todos trabalhassem desde cedo. E foi o que ela fez. Viviane reconhece que o fato de sua mãe ser analfabeta contribuiu para que a mesma não incentivasse os filhos na busca pelos estudos. “Ninguém ensina o que não sabe”, diz Viviane.
Mas com o passar do tempo, ela percebeu que não adiantava só trabalhar desde cedo, conforme orientação da mãe. Concluiu que o melhor era estudar e continuar trabalhando para ajudar a minimizar as dificuldades que passavam em casa, pois perdera o pai aos sete anos de idade, e a mãe precisava dos filhos unidos ao seu lado.
O primeiro trabalho com carteira assinada de Viviane foi como responsável pela limpeza em uma escolinha de educação infantil. Ali começou a observar as professoras dando aula para as crianças. Ficou admirada, maravilhada. E decidiu que era isso que queria para si. Como sempre precisou trabalhar muito para ter alguma oportunidade, desta vez não seria diferente, e para “adquirir experiência”, segundo palavras da coordenadora pedagógica, trabalhou três meses de graça, sem qualquer remuneração. A coordenadora então indicou e pagou-lhe um curso de educadora assistente. Concluído o mesmo, foram mais dois meses de trabalho “voluntário” para devolver a aposta e o investimento feitos pela coordenadora. Viviane tinha a força de vontade e o dom, dizia ela.
Viviane se sentiu importante e resolveu cursar o magistério, e ao concluí-lo, disse para si mesma: “Agora sou alguém!” Mas ela queria mais. E buscou então a graduação em Pedagogia. Ao passar pelo processo seletivo, viu sua vida transformada. Passou a ser respeitada ainda mais, e seu esforço era reconhecido. Sempre sonhava em ser motivo de orgulho para a mãe, e passou a dizer-lhe que é através dos estudos, e não só do trabalho, que nos tornamos alguém. E hoje ela vê seu sonho se realizando. Passo a passo foi trilhando seu caminho, com a certeza das coisas que lhe fazem feliz, e a Pedagogia é uma delas.
Adquiriu experiência e conquistou a oportunidade de estudar depois de casar e ter filhos, e o próximo sonho a realizar é se tornar coordenadora da escola infantil comunitária onde tudo começou, onde ela descobriu o que queria para sua vida, e por onde também passou o seu filho.
Apesar das dificuldades que ainda tem com a escrita, porque parou de estudar na adolescência e só retornou depois de muitos anos, Viviane gosta muito de escrever. E dedica-se cada vez mais aos estudos. O que aprende na teoria, já está colocando em prática na escola onde tudo começou, agora como auxiliar da coordenação, implementando projetos e jogos pedagógicos, entre outras atividades. Suas vitórias e o futuro diploma de Pedagoga ela dedica à mãe, que já faleceu, e ao filho, a quem ela incentiva na busca constante pelos estudos.