Eva Sopher completou 85 anos de vida no dia 18 de junho. A data foi comemorada com o lançamento do documentário Dona Eva e o Theatro, que teve sessão especial para os convidados que lotaram a platéia e as galerias do São Pedro. Na última quarta-feira, 06 de agosto, as portas do Theatro se abriram para mais uma exibição do filme, produzido e dirigido por Cláudia Dreyer. Com apenas um quilo de alimento não perecível, o público poderia se emocionar com a trajetória da imigrante alemã que, aos 52 anos, assumiu a direção daquele que voltaria a ser um dos mais belos e respeitados teatros do Brasil. Estive nas duas sessões, no dia 18 de junho e na última quarta-feira, quando, chegando às 19:30, pensei encontrar longas filas, já que o Teatro abriria às 19 horas para uma projeção que teve início às 20. Para minha surpresa, a platéia somava 51 espectadores. Prova cabal de que nem sempre o apoio da imprensa sensibiliza ou suscita o interesse da população. Pois digo eu: não sabem os portoalegrenses o que perderam.
O filme conta a história da menina que ainda na Alemanha pedia de presente de Natal ao pai que a levasse ao teatro. Na platéia, Eva fechava seus olhos e os abria novamente quando as cortinas se erguiam. Muitos anos depois, em 1975, já no Sul do Brasil, em Porto Alegre, com o apoio irrestrito do marido, Wolfgang Klaus Sopher, Eva assume a direção do Theatro São Pedro a convite do então governador Synval Guazelli. De lá para cá sua história se confunde com a do São Pedro e, como alguém já disse, Eva é a espinha dorsal do Teatro. Incansável na sua luta, colheu mais amigos que desafetos. Como lembram Natália Thimberg e Gerald Thomas, a maior ameaça foi quando certo governador tentou tirar Dona Eva da direção da casa, ou melhor, tirar nosso teatro da inquestionável condução de suas mãos. A “Doce Fera”, como a designou seu biógrafo, Antônio Hohlfeldt, foi então trancafiada no teatro por amigos e artistas que ficaram do lado de fora. De mãos dadas, abraçaram o São Pedro, ao mesmo tempo em que gritavam por sua permanência. Eva ultrapassou governos e, sem tomar partido político, se mantém em sua direção desde que o São Pedro foi reinaugurado, em 1984, quando Fernanda Montenegro declarou: “…O São Pedro é parte fundamental da memória cultural do Brasil e sua recuperação nos perpetua…”. Mas, talvez o carioca Paulo Gracindo tenha expressado da forma mais eloqüente o sentimento de gratidão dos gaúchos: “Eva: Quem a boca do meu filho beija – a minha adoça – diz o ditado da minha terra – por isso, o que você fez pelo mais lindo teatro do Brasil tira do meu coração a maior explosão de ternura que eu já senti por uma mulher”.
Publicado no Correio do Povo em 12 de agosto de 2008.